quarta-feira, 30 de junho de 2010
GENTILEZA
José Datrino, Jozzé Agradecido ou Profeta Gentileza, homem que despertou para a vida, acordando dessa imensa inercia que vivemos mergulhados e fez de seus sonhos uma realidade, "troxe flores e vinho" (Carlos Gomides) com fé e amor no coraçao e espalhou sua mensagem de consolo AMORRR e GENTILEZA.
Jéssika Bezerra
Cannabis: eis a questão!
Cannabis sativa popularmente conhecida como maconha, ganja, marijuana, entre outros, consiste na erva de propriedades psicoativas mais consumida no mundo. Originária da Ásia Central, com primeiro registro do seu uso á 4.700 anos, sendo vinculado por muito tempo a crenças religiosas, ações terapêuticas, boêmias e recreativas, principalmente pela sociedade moderna ocidental, além da utilização de sua fibra para a indústria têxtil, inclusive muito valorizada entre os romanos pela eficiência na produção de tecidos.
Chegou ao Brasil nas primeiras caravelas portuguesas presente nas velas e cordas das embarcações. Contudo, segundo o documento oficial de 1959 a planta teria sido introduzida no Brasil a partir de 1549 pelos negros que traziam as sementes em bonecas de pano. No século XVIII o cultivo passou a ser incentivado pela coroa portuguesa que, chegava a enviar sacas de sementes para o Brasil.
Na segunda metade do século XIX seus efeitos hedonísticos começaram a ser explorados e o uso medicinal incentivado até a década de 1930 quando passou a ser recriminada. E o início dessa fase repressiva no Brasil atingiu vários estados (MAMEDE, 1945) principalmente o Rio de Janeiro, Pernambuco, Maranhão, Alagoas e Bahia. Tendo a “proibição total do plantio, cultura, colheita e exploração por particulares da maconha em todo território nacional em 25/11/1938 pelo Decreto-Lei 891 do Governo Federal (Fonseca, 1980)”.
Esse fato se deu primariamente por motivos econômicos, sociais e políticos, e não necessariamente por fundamentação científica, influenciados pela dominação capitalista norte-americana que se fortaleceu e determinou a criminalização praticamente mundial.
Nos EUA na década de 20 era liberada e o uso mais freqüente era entre os imigrantes principalmente os mexicanos que constituíam as classes marginalizadas da época. Com o repudio ao álcool que culminou com a Lei Seca houve um considerável aumento no seu consumo graças á dificuldade na obtenção do álcool. Somando-se a isso, a quebra da bolsa e a conseqüente crise de 29 criaram o cenário perfeito para a proliferação de informações ligadas á maleficência da erva e sua vinculação aos imigrantes, que constituíam os “marginais” e “praga” da época. Então notícias como indução á promiscuidade sexual e a violência, que segundo a “boa moral americana” são características tipicamente latinas, além de informações aleatórias (sem estudos científicos por trás) como a cannabis ser uma “porta de entrada para outras drogas”. Vale lembrar que um grande responsável pela proliferação da informação que a cannabis levaria à violência foi Harry Anslinger, chefe do Bureau of Narcotics dos EUA que colaborou diretamente na divulgação de relatos jornalísticos falsos sobre crimes hediondos que teriam sido praticados por indivíduos "enlouquecidos" pela maconha (Sloman,1983; Becker, 1976 a).
Esses mitos antimaconha constituíram uma política proibicionista eficaz, que contou bastante com a participação da mídia, que reprimia a cannabis com informações sobre a violência relacionada ao tráfico e consumo e sobre “os perigos das drogas”, por outro lado incentivando o consumo e venda de bebidas alcoólicas e cigarro com propagandas sofisticadas. Porém sabe-se que não existem motivos científicos para o incentivo á cultura do álcool enquanto se proíbe veemente a maconha, pois o álcool etílico um depressor do sistema nervoso central é responsável por 90% dos internamentos por problemas e dependência de drogas, alem de causar lesões cerebrais irreversíveis, psicose, demência, hipertensão arterial, arteriosclerose, miocardiopatia, cirrose, pancreatite, gastrite, entre outras patologias e complicações metabólicas sérias. Com isso fica claro que a participação da mídia teve uma conotação social mais forte que as intervenções da comunidade científica, o que era raro.
Estas representações nortearam, ou influenciaram, o modo como as novas gerações seriam prevenidas, instruídas, ou, surpreendidas por seus familiares como consumidores de maconha (Cavalcanti 1998:119 e 132)
No âmbito econômico, houve uma forte campanha pela elite industrial americana em prol da substituição da fibra do cânhamo pela fibra sintética de náilon, que na época a industria têxtil encontrava-se em expansão, porem o cânhamo ainda constituía um poderoso concorrente.
Então, o tema cannabis foi “banido” da sociedade até que reconquistou visibilidade com o movimento hippie na década de 60, influenciando o interesse da comunidade científica, quando em 1964 Raphael Mechoulan, pesquisador israelense, isolou o seu princípio ativo o delta-9-tetraidrocanabinol conhecido como THC um dos responsáveis pela indução dos seus efeitos no organismo. Com isso, explorou-se profundamente desde as alterações fisiológicas provocadas às propriedades terapêuticas, e a indústria farmacológica passou a produzir fármacos cujo principio ativo era o THC, entre eles o Marinol e o Nabilone, extensamente utilizados ao longo do tempo. Alem disso segundo Macrae e Simões (2000)
A força reivindicatória que exerceria a "revolução cultural" dos anos 60 sobre o simbolismo do uso da maconha, em quase todo o Ocidente, marcou a inclusão do `jovem" num mundo até então concebido quase exclusivamente como habitado pelos bandidos denunciados pela imprensa. A partir dessa década, o costume de fumar maconha deixou de ser apanágio das camadas pobres e marginalizadas e ganhou amplitude entre segmentos da classe média urbana.
Paralelamente, durante a ditadura militar no Brasil passou a editar varias leis antitóxicas, inclusive a campanha antimaconha conseguiu criminalizar a droga no Brasil. No fim da década de 70, em função do movimento norte-americano de "guerra às drogas" e da carência de estudos epidemiológicos brasileiros, a imprensa nacional começou a divulgar uma série de especulações sobre uma suposta "explosão" do uso de "drogas ilícitas", como maconha, cocaína, ácido lisérgico (LSD) e heroína, sobretudo entre estudantes brasileiros (Carlini-Cotrim et al., 1995).Sendo responsável também pela aquisição do estereotipo de criminoso do usuário e do preconceito ao qual o mesmo é submetido, e transformação do consumo da cannabis num assunto que envolve inúmeros tabus e mitos e que a sociedade brasileira evita as discussões e o debate público.
Contudo o fato de não ser amplamente discutido não exclui ou minimiza o uso por parte considerável da população, segundo o Relatório Mundial Sobre Drogas da ONU de 2007 a maconha é utilizada por 3,8% da população mundial, no Brasil de acordo com levantamento realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas – CEBRID da Universidade Federal de São Paulo (2002), 6,9% da população brasileira já utilizou a maconha pelo menos uma vez na vida, dos usuários segundo dados oficiais da Secretaria Nacional Antidorgas (SENAD) de 2005, 41% dos usuários está na faixa etária de 12 a17 anos e 17% dos usuários esta na faixa dos 18 aos 24 anos.
É sob essa perspectiva que a questao cannabis deve ser pensada e discutida, e nao sob o fraco discurso do "legalizar ou nao". Mas infelizmente boa parte de orgaos que deseja "banir" o uso - se é que é possivel - ainda faz campanhas mesquinhas e pobres de conteudo e reflexoes direcionadas a milhoes de usuarios. Entao sugiro que essas pessoas e orgaos se deem ao trabalho de estudar mais um pouco, e aos usuarios que tentem compreender a essencia de seus habitos nao resumindo-os apenas a uma rotina de escapamento da realidade.
Jéssika Bezerra
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